quinta-feira, 24 de abril de 2014

TDD está morto?

Nesta semana o chão estremeceu após a declaração de David Heinemeier Hansson (@DHH), autor de livros como Getting Real, Rework, Remote, além do framework Ruby On Rails e do Basecamp, postada recentemente em seu blog, de que para ele TDD está morto. O texto original pode ser encontrado aqui.

Nos últimos anos quem busca estar sempre atualizado com as práticas modernas de desenvolvimento de software tem ouvido sempre que praticar TDD, ou seja, escrever testes unitários antes de escrever o código que será testado, deve ser uma prática obrigatória para se garantir a qualidade do trabalho realizado. Livros e livros foram escritos sobre o assunto, e provavelmente alguns mais ainda serão.

O desenvolvimento utilizando TDD é conceitualmente simples: Para cada método público que pretende escrever em cada uma das entidades que compõem seu software, escreva antes um ou mais testes unitários que entreguem a esse método algumas combinações de parâmetros de entrada, o executem e por fim verifiquem se o resultado de sua execução é aquele esperado para cada um dos conjuntos de parâmetros informados. Faça isso escrevendo primeiro os testes, em seguida, antes mesmo de escrever o conteúdo do método a ser testado, execute os testes para garantir que eles não estão indicando um falso positivo, em seguida escreva apenas o mínimo de código necessário para fazer com que aquele teste passe e por fim refatore o código para torna-lo mais claro e/ou eficiente. Ao terminar essa refatoração seus testes passaram novamente e você terá um indicador para lhe dizer caso alguém faça uma besteira e acabe alterando o comportamento do seu método.

Tudo muito lindo, até se colocar em prática. Na prática, é muito difícil determinar o que testar, além de a arquitetura e o desenho do software mudarem bastante à medida em que sua implementação evolui. E quanto mais granulares os seus testes, mais difícil será mantê-los atualizados. Sem falar no inferno de mocks, fakes e stubs que acabam sendo necessários para permitir que apenas aquele método, aquela unidade de código, esteja de fato sendo testada naquele momento, e não tudo que é executado como dependência a partir dela.

Diante dessas dificuldades, muitos desistem do TDD. Creio que a maioria desista, por elas e pela falta de disposição em aprender e treinar o calhamaço de novas habilidades necessárias para se praticar TDD. Em Janeiro de 2012 o maior advogado do TDD, Uncle Bob (@unclebobmartin), autor de livros como PPP, Clean Code e The Clean Coder, escreveu um artigo em que falava justamente sobre a mudança de posicionamento necessária ao desenvolvedor para que ele pudesse finalmente virar o bit e se tornar um praticante de TDD. Esse artigo pode ser visto aqui, e é um interessante contraponto ao que foi apresentado ontem pelo David.

Pelo que já coloquei acima, já da pra perceber que minha posição se assemelha mais à posição do David nesse caso. Sempre fui extremamente pragmático, e escrever quilos e quilos de mocks e testes para verificar o comportamento de um método que em poucos dias provavelmente nem existirá mais nunca ganhou minha simpatia. Estudei muito a respeito, ainda tenho livros na minha estante sobre o assunto que lerei em breve, mas nunca consegui assumir essa prática (TDD) como uma religião, como muitos tem feito e advogado que deve ser feito. No entanto, assim como David, não me coloco no outro extremo, não sou de modo algum um Programmer Motherfucker que quer apenas escrever código do jeito que bem entender, sem critério algum por que é isso que fazermos, programar. Não estaria me dedicando a este blog agora se fosse esse o caso.

A saída pra mim foi encontrada na verdade em um irmão mais novo do TDD (Test-Driven Development) o BDD (Behavior-Driven Development). Ao qual tenho me referido bastante ultimamente como Especificação por Exemplo.

Após Dan North (@tastapodintroduzir a técnica denominada BDD, muitos afirmaram que BDD não seria mais que TDD feito da forma correta, e a forma correta nesse caso seria dar ênfase ao comportamento a ser apresentado pelo software a ser testado, e não a um único método, uma única unidade de código. Neste link e neste link vemos respostas de Uncle Bob a esse tipo de afirmação.

Dando ênfase a um comportamento, favorecemos a modularização, damos um norte ao desenvolvedor, que pode ter liberdade para criar o desenho do software, tendo como parâmetro o comportamento descrito. Tal comportamento pode ser definido por ele mesmo, ou em conjunto com outros envolvidos, como testadores e analistas de requisitos, mas será no fim parte do código fonte do sistema, será compilado, traduzido para código e testado, num ciclo muito semelhante ao ciclo do TDD, no entanto sem a ênfase absurda à unidade. Serão testes maiores, mais lentos, integrados, embora não necessariamente end-to-end. É uma técnica que com certeza vale a pena conhecer. Obtém-se muitas das vantagens do TDD, sem trazer consigo a maioria de seus problemas.

Enfim, não vou me estender demais. Queria apenas aproveitar a polêmica do momento e escrever esse texto contrastando as duas técnicas e expondo minha posição a respeito do uso de TDD.

Recentemente fiz um trabalho acadêmico sobre o assunto: Melhorando a Eficiência no Desenvolvimento de Software através da Aplicação de Técnicas de Especificação por Exemplo. Tal trabalho pode ser encontrado aqui.

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